terça-feira, 3 de setembro de 2013

Se for comparar...



...Pedro não cometeu um erro menos grave do que o de Judas, mas deixou-se ser alcançado por seu mestre. Seus erros lapidaram a pedra tosca e produziram nele um diamante. Ele aprendeu com Jesus  que a sabedoria de um ser humano não está em não errar, mas em usar seu erro como alicerce de crescimento. Augusto Cury diz: "Nesses anos todos, exercendo a psiquiatria e pesquisando os segredos da mente humana, descobri que não sabemos proteger a memória e, por isso, todos nós temos algumas atitudes de Judas em nosso currículo, ainda que inconscientemente".



Quem não é traidor? Você pode nunca ter traído alguém, mas dificilmente não traiu sua qualidade de vida. Quantas vezes você disse que seria uma pessoa mais paciente, mas uma ofensa o levou à ira? Você traiu a sua intenção. Quantas vezes você prometeu que amaria mais, sorriria mais, viveria mais suavemente, trabalharia menos, se preocuparia menos, mas não cumpriu sua promessa?  Alguns traem seu sono, outros traem seus sonhos.


O Mestre da qualidade de vida tem muito a nos ensinar. Você está disposto a ser um pequeno aprendiz?

Quanto vale a sua paz?



 Vamos analisar um dos fenômenos sociais mais conhecidos da história, a traição de Judas, e desvendar como Jesus trabalhou com os papéis da memória, como filtrou os estímulos estressantes em situações-limite e como ajudou seus discípulos a desenvolver a arte de pensar.  O Mestre dos mestres, ao longo da sua caminhada, recebia pequenas quantias de dinheiro para seu sustento e dos jovens que o acompanhavam. 



 A quem ele confiou a bolsa que continha esse dinheiro? A Judas(a "profissão" de Judas era ladrão). Ele era ingênuo ao dar essa atribuição a Judas? De modo algum. Ele conhecia o caráter frágil do seu discípulo, mas nunca desistiu dele. Por quê? Ele não tinha medo de ser roubado por Judas, mas de perdê-lo.


 Sua atitude revela que ele tinha metas claras para seus discípulos. Trabalhar neles a solidariedade, a arte de pensar, o amor mútuo era mais importante do que todo o dinheiro do mundo. Ele desejava que Judas revisse a sua história enquanto cuidava das finanças do grupo. Judas era o mais culto dos discípulos, mas era o menos preparado para a vida. O desprendimento de Jesus indica uma excelente proteção da sua memória. Não ficava remoendo pensamentos negativos em relação ao seu discípulo e contaminando sua memória. Ele sabia que quem é desonesto rouba a si mesmo. 


Rouba o quê? Rouba sua tranqüilidade, sua serenidade, seu amor pela vida. Queria que Judas aprendesse a pensar antes de reagir e valorizasse o que ele, o Mestre, mais amava.  O maior erro de Judas não foi a traição a Jesus, foi sua incapacidade de reconhecer suas limitações. Foi não aprender a ser transparente e perceber que seus maiores problemas estavam dentro dele mesmo. Judas acumulava entulhos na sua memória, 

 principalmente nos últimos meses antes de trair Jesus.  No começo, ele estava fascinado com o poder e a eloqüência de Jesus, mas pouco a pouco se frustrou com ele, pois Jesus não tomava o trono político. Ele não entendeu que Jesus queria o trono do coração humano. Trono esse que só poderia ser conquistado com liberdade, sabedoria e amor. 
 
As atitudes de Jesus deixam fascinados os intelectuais lúcidos. Na última ceia, Jesus anunciou a sua morte e disse, com o coração partido, que um dos discípulos o trairia. Abalados, todos queriam o nome do traidor. Mas Jesus nunca expunha publicamente os erros das pessoas. Mas Jesus não daria o nome do traidor, protegeria Judas. Eles insistiram. Então, mostrando uma humanidade admirável, em vez de acusar Judas, deu um pedaço de pão a ele. O traidor queria golpeá-lo, mas o Mestre dos mestres queria saciá-lo. 


Sabia que ele tinha sede de paz. Ninguém percebeu o que se passava, apenas Judas. Em seguida, mais uma vez, ele demonstrou uma força e serenidade brilhante como o sol. Disse sem temor a Judas: "O que pretendes fazer, faze-o depressa".  Ele não o criticou, não o pressionou, não o controlou. Teve a ousadia de dizer que se Judas quisesse traí-lo, poderia fazê-lo e depressa. Nunca na história alguém teve uma atitude tão altruísta com seu traidor. Mais uma vez eu afirmo: ele não tinha  medo de  ser traído por Judas,  tinha medo de perdê-lo.  


Ao dar-lhe um pedaço de pão em vez de agredi-lo e ao encorajá-lo a tomar livremente a atitude que quisesse, ele estava gritando docilmente para que Judas repensasse sua história, protegesse sua memória e se tornasse líder de si mesmo. Stalin matou milhões de pessoas. Foi um dos maiores carrascos da história. Dentre suas vítimas, estavam dezenas de amigos. Por quê? Porque tinha paranóia: idéia de perseguição associada à insensibilidade, incapacidade de sentir a dor dos outros. Era um homem grande por fora, mas pequeno por dentro.


 O simples fato de suspeitar que seus amigos o estavam traindo era suficiente para condená-los e fazê-los declarar publicamente que eram traidores. Ele dominava a mente e o destino das pessoas.

Jesus era diferente. Mesmo sabendo que iria ser traído por Judas (e negado por Pedro), liderou seus pensamentos, administrou sua emoção, protegeu a sua memória e deu plena liberdade a eles. No ato da traição, houve mais uma prova de que Jesus estava querendo reconquistar Judas... 



...Judas chegou com uma grande escolta. Estava nervoso e ofegante. Precisava identifica-lo naquela noite escura e fria. Embora fosse trair o Mestre dos mestres, sabia que ele era profundamente dócil. Bastava um beijo para identificá-la. Então, tomou a frente da escolta e foi beijá-lo.  Você se deixaria beijar por seu traidor?  Jesus se deixou... As atitudes incomuns de Jesus continuaram. Ele fitou seu

traidor e disse-lhe: "Amigo, para que vieste?  Com um beijo trais o Filho do homem?". Não se tem notícia na história de que um traidor tenha sido tratado com tanta gentileza. Nunca o amor chegou a patamares tão altos. 



Ele chamou seu traidor de amigo. Não mentiu. Como o mais fiel e consciente dos homens, ele cumpriu sua palavra ao extremo. Ele havia dito no Sermão do Monte que deveríamos dar a outra face aos inimigos e amá-los. Ele amou Judas, deu a outra face a ele no limite superior da frustração.  Somente alguém que tem uma saúde emocional excepcional e uma força psíquica imbatível é capaz de tomar essa atitude. Nenhum psiquiatra chegou perto dessa maturidade.  Jesus incluiu seu traidor, atraiu-o para si e procurou proteger sua emoção e sua memória. Queria conquistar Judas e evitar que ele se suicidasse. Quem analisa esses fatos sob o ângulo da psicologia e psiquiatria tem de se dobrar diante da sua grandeza. Há menos de uma hora o Mestre da vida estava no extremo do estresse, agora ele estava no extremo da inteligência.  Jesus golpeou a ambição de Judas. Nunca alguém amou tanto, incluiu tanto, apostou tanto, deu tantas chances a pessoas que mereciam tão pouco. 

Infelizmente, Judas não conseguiu entender a linguagem do seu mestre. Ele através do fenômeno RAM, registrou de maneira intensa sua traição nos solos da sua memória. Saiu de cena perturbado. Percebeu a incompreensível amabilidade de Jesus, mas não se deixou ser alcançado por ela. O que é pior, ele começou a gravitar em torno da zona de conflito (Janela Killer) que criou. O fenômeno do Autofluxo começou a ler velozmente essa zona de conflito e produziu milhares de pensamentos sem  a autorização do "eu", que, por sua vez, alimentou seu sentimento de culpa e o atormentou intensamente. Desse modo, o fenômeno do Autofluxo, que deveria gerar uma fonte de prazer, gerou um teatro de terror. Não foi autor da sua história, mas vítima dos seus erros. Infelizmente, contra o clamor de Jesus, ele desistiu de si mesmo.