Diz Augusto Cury: "Como autor da teoria da Inteligência Multifocal, descobri que as maiores
evidências de que há um Deus no Universo não estão no mundo físico, mas no cerne
da psique humana. Gostaria de enfatizar que houve períodos da minha vida em
que rejeitei a idéia da existência de Deus. Procurá-lo era perder tempo no
imaginário. Deus era fruto do cérebro. Entretanto, ao mede bruçar na pesquisa
sobre os fenômenos que constroem cadeias de pensamentos, fiquei pasmado...Encontrei evidências claras de que diversos fenômenos psíquicos
que estão na base do funcionamento da mente ultrapassam os limites da lógica.
Eles não se explicam por si mesmos, como o fenômeno da psico adaptação e o
fenômeno do auto fluxo. A energia psíquica se transforma num processo contínuo
e irrefreável. Pensar não é uma opção do homem, é inevitável. Podemos
gerenciar os pensamentos, mas não interrompê-los. Tais fenômenos só podem ter
sido concebidos por um Criador.
Deixe-me dar um exemplo: Sabemos que dois
cientistas interpretando um mesmo fenômeno produzem conhecimentos distintos, pois
têm culturas, capacidade de observação e personalidades distintas. Mas o que
é fascinante é que esse mesmo processo ocorre com um mesmo cientista. Um mesmo
cientista interpretando um mesmo fenômeno em dois momentos diferentes também produz conhecimento distinto, ainda que
não o deseje. Porquê? Porque nunca somos os mesmos. O processo de
interpretação não é linear, matemático, completamente lógico. A cada momento
de interpretação, dezenas de variáveis fazem-nos produzir cadeias de pensamentos
e emoções distintas.
Outro exemplo simples: uma mulher não interpreta do mesmo modo
a mesma roupa em dois momentos distintos. Na quarta ou quinta vez que a usa sua
reação psíquica será distinta da primeira vez. Ela psicoadaptou-se à roupa. A
roupa é a mesma, mas ela não é mais a mesma. O mesmo carro, quadro de
pintura, arquitetura da casa, objeto, relacionamentos produzem diferentes
interpretações. Nossa visão de mundo está em constante processo de mutação,
ainda que não percebamos. Produzimos a lógica da
matemática, mas nossa inteligência é tão espetacular que não cabe
dentro de um mundo lógico. Quem a teceu?
Num instante podemos estar alegres e
em outro apreensivos, num tranquilos e noutro ansiosos. Que tipo de energia
constitui nossas emoções que as faz mudar de natureza em frações de segundos?
Às vezes, diante de um pequeno problema, reagimos com grande ansiedade e, diante
de um grande problema, reagimos com tranquilidade. A matemática da emoção rompe
com os parâmetros da matemática numérica, o que nos torna belos e, por vezes,
imprevisíveis e complicados. A energia emocional tão criativa, livre
e imprevisível pode ser fruto apenas do metabolismo cerebral? Não! O metabolismo
cerebral é lógico e linear para explicar o mundo emocional e o sistema de
encadeamento distorcido no processo de construção de pensamentos.
A teoria da evolução de Darwin, apoiada pelas mutações e
variabilidade genética, pode explicar a adaptação das espécies diante das
intempéries do meio ambiente, mas não explica os processos ilógicos que ocorrem
nos bastidores da alma humana. Ela é simplista demais para explicar a fonte que
gera o mundo das idéias e das emoções.
A psique ou alma humana precisa de Deus para ser explicada. Há um campo de energia que coabita, coexiste e co interfere
intimamente com o cérebro, mas que ultrapassa seus limites. Algo que chamamos
de alma, psique e espírito humano. Algo que clama pela continuidade da vida,
mesmo quando se perde o prazer de viver. Algo que clama por esperança, mesmo
quando o mundo desaba sobre nós.
Quero concluir que os fenômenos que constroem a
inteligência me convenceram de que Deus não é uma invenção de um cérebro evoluído
que resiste ao seu fim existencial. Deus não é uma idéia do cérebro, o cérebro é
uma idéia de Deus.
Einstein
disse, certa vez, que não compreendia como surgiram as inspirações que contribuíram
para a descoberta da teoria da relatividade. Se a mente humana fosse
estritamente lógica, o mundo intelectual seria programado e rígido. Não teríamos
a inspiração, a criatividade, a angústia das dúvidas. Não teríamos uma
ansiedade vital que nos estimula a abrir as janelas da inteligência para
resolvê-la. Não haveria escritor nem leitor. Certa vez, perguntaram para ele se ele cria em Deus.
Perplexo com a pergunta, ele retrucou que um cientista como ele não
poderia deixar de crer em Deus. Em outra ocasião, ele disse que estava mais
interessado em conhecer a mente de Deus do que os fenômenos da física.
O pai
da psicanálise, Freud, procurava a superação do fim da existência, apesar de ter
sido um judeu ateu. O amor atropelou o pensador. O amor intenso de Freud por um
dos seus netos que estava morrendo lentamente de tuberculose miliar abalou seus
alicerces. Ele desenvolveu uma crise depressiva... Sua depressão era sinal de
fragilidade? De modo algum. Ela representava uma dramática reação inconsciente
diante do fim da existência. A depressão de Freud era um grito do seu
inconsciente pela eternidade.
Eu entendo o que Freud passou. Vivi situação semelhante. Perdi
dois sobrinhos e uma, cunhada subitamente. O carro em que estavam
acidentou-se gravemente e incendiou-se. As crianças eram como filhos para mim.
Meu querido irmão perdeu, na época, toda sua família. Daria tudo o que tenho,
todas as conquistas, todos os meus bens materiais para trazê-los de volta à vida.
Choramos lágrimas incontidas. Todos os psiquiatras do mundo não poderiam nos
consolar. Mas Deus foi nosso consolo na tempestade, nossa âncora na tormenta,
nosso conforto na dor".