terça-feira, 3 de setembro de 2013

Quanto vale a sua paz?



 Vamos analisar um dos fenômenos sociais mais conhecidos da história, a traição de Judas, e desvendar como Jesus trabalhou com os papéis da memória, como filtrou os estímulos estressantes em situações-limite e como ajudou seus discípulos a desenvolver a arte de pensar.  O Mestre dos mestres, ao longo da sua caminhada, recebia pequenas quantias de dinheiro para seu sustento e dos jovens que o acompanhavam. 



 A quem ele confiou a bolsa que continha esse dinheiro? A Judas(a "profissão" de Judas era ladrão). Ele era ingênuo ao dar essa atribuição a Judas? De modo algum. Ele conhecia o caráter frágil do seu discípulo, mas nunca desistiu dele. Por quê? Ele não tinha medo de ser roubado por Judas, mas de perdê-lo.


 Sua atitude revela que ele tinha metas claras para seus discípulos. Trabalhar neles a solidariedade, a arte de pensar, o amor mútuo era mais importante do que todo o dinheiro do mundo. Ele desejava que Judas revisse a sua história enquanto cuidava das finanças do grupo. Judas era o mais culto dos discípulos, mas era o menos preparado para a vida. O desprendimento de Jesus indica uma excelente proteção da sua memória. Não ficava remoendo pensamentos negativos em relação ao seu discípulo e contaminando sua memória. Ele sabia que quem é desonesto rouba a si mesmo. 


Rouba o quê? Rouba sua tranqüilidade, sua serenidade, seu amor pela vida. Queria que Judas aprendesse a pensar antes de reagir e valorizasse o que ele, o Mestre, mais amava.  O maior erro de Judas não foi a traição a Jesus, foi sua incapacidade de reconhecer suas limitações. Foi não aprender a ser transparente e perceber que seus maiores problemas estavam dentro dele mesmo. Judas acumulava entulhos na sua memória, 

 principalmente nos últimos meses antes de trair Jesus.  No começo, ele estava fascinado com o poder e a eloqüência de Jesus, mas pouco a pouco se frustrou com ele, pois Jesus não tomava o trono político. Ele não entendeu que Jesus queria o trono do coração humano. Trono esse que só poderia ser conquistado com liberdade, sabedoria e amor. 
 
As atitudes de Jesus deixam fascinados os intelectuais lúcidos. Na última ceia, Jesus anunciou a sua morte e disse, com o coração partido, que um dos discípulos o trairia. Abalados, todos queriam o nome do traidor. Mas Jesus nunca expunha publicamente os erros das pessoas. Mas Jesus não daria o nome do traidor, protegeria Judas. Eles insistiram. Então, mostrando uma humanidade admirável, em vez de acusar Judas, deu um pedaço de pão a ele. O traidor queria golpeá-lo, mas o Mestre dos mestres queria saciá-lo. 


Sabia que ele tinha sede de paz. Ninguém percebeu o que se passava, apenas Judas. Em seguida, mais uma vez, ele demonstrou uma força e serenidade brilhante como o sol. Disse sem temor a Judas: "O que pretendes fazer, faze-o depressa".  Ele não o criticou, não o pressionou, não o controlou. Teve a ousadia de dizer que se Judas quisesse traí-lo, poderia fazê-lo e depressa. Nunca na história alguém teve uma atitude tão altruísta com seu traidor. Mais uma vez eu afirmo: ele não tinha  medo de  ser traído por Judas,  tinha medo de perdê-lo.  


Ao dar-lhe um pedaço de pão em vez de agredi-lo e ao encorajá-lo a tomar livremente a atitude que quisesse, ele estava gritando docilmente para que Judas repensasse sua história, protegesse sua memória e se tornasse líder de si mesmo. Stalin matou milhões de pessoas. Foi um dos maiores carrascos da história. Dentre suas vítimas, estavam dezenas de amigos. Por quê? Porque tinha paranóia: idéia de perseguição associada à insensibilidade, incapacidade de sentir a dor dos outros. Era um homem grande por fora, mas pequeno por dentro.


 O simples fato de suspeitar que seus amigos o estavam traindo era suficiente para condená-los e fazê-los declarar publicamente que eram traidores. Ele dominava a mente e o destino das pessoas.

Jesus era diferente. Mesmo sabendo que iria ser traído por Judas (e negado por Pedro), liderou seus pensamentos, administrou sua emoção, protegeu a sua memória e deu plena liberdade a eles. No ato da traição, houve mais uma prova de que Jesus estava querendo reconquistar Judas... 



...Judas chegou com uma grande escolta. Estava nervoso e ofegante. Precisava identifica-lo naquela noite escura e fria. Embora fosse trair o Mestre dos mestres, sabia que ele era profundamente dócil. Bastava um beijo para identificá-la. Então, tomou a frente da escolta e foi beijá-lo.  Você se deixaria beijar por seu traidor?  Jesus se deixou... As atitudes incomuns de Jesus continuaram. Ele fitou seu

traidor e disse-lhe: "Amigo, para que vieste?  Com um beijo trais o Filho do homem?". Não se tem notícia na história de que um traidor tenha sido tratado com tanta gentileza. Nunca o amor chegou a patamares tão altos. 



Ele chamou seu traidor de amigo. Não mentiu. Como o mais fiel e consciente dos homens, ele cumpriu sua palavra ao extremo. Ele havia dito no Sermão do Monte que deveríamos dar a outra face aos inimigos e amá-los. Ele amou Judas, deu a outra face a ele no limite superior da frustração.  Somente alguém que tem uma saúde emocional excepcional e uma força psíquica imbatível é capaz de tomar essa atitude. Nenhum psiquiatra chegou perto dessa maturidade.  Jesus incluiu seu traidor, atraiu-o para si e procurou proteger sua emoção e sua memória. Queria conquistar Judas e evitar que ele se suicidasse. Quem analisa esses fatos sob o ângulo da psicologia e psiquiatria tem de se dobrar diante da sua grandeza. Há menos de uma hora o Mestre da vida estava no extremo do estresse, agora ele estava no extremo da inteligência.  Jesus golpeou a ambição de Judas. Nunca alguém amou tanto, incluiu tanto, apostou tanto, deu tantas chances a pessoas que mereciam tão pouco. 

Infelizmente, Judas não conseguiu entender a linguagem do seu mestre. Ele através do fenômeno RAM, registrou de maneira intensa sua traição nos solos da sua memória. Saiu de cena perturbado. Percebeu a incompreensível amabilidade de Jesus, mas não se deixou ser alcançado por ela. O que é pior, ele começou a gravitar em torno da zona de conflito (Janela Killer) que criou. O fenômeno do Autofluxo começou a ler velozmente essa zona de conflito e produziu milhares de pensamentos sem  a autorização do "eu", que, por sua vez, alimentou seu sentimento de culpa e o atormentou intensamente. Desse modo, o fenômeno do Autofluxo, que deveria gerar uma fonte de prazer, gerou um teatro de terror. Não foi autor da sua história, mas vítima dos seus erros. Infelizmente, contra o clamor de Jesus, ele desistiu de si mesmo. 


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