segunda-feira, 17 de março de 2014

Ei, Deus Fala???

Vimos, comprovado pela ciência, que Deus existe! Que há um criador sobre todas as coisas e que seus olhos tudo vê! Mas, esse mesmo Deus, fala?
 Na verdade, Deus sempre falou com a humanidade. Falou na história, pela história e acredito que Ele ainda fala! Eu o ouço! Não se espante, não fiquei louca...

O que aconteceu é que passei a ouvir com mais atenção. Treinei meus ouvidos, ajustei minha interpretação, procurei o caminho da sensibilidade...o ouço na risada de meus filhos que brincam comigo, na gritaria das crianças que correm na praça; as vezes Sua voz tem tom feminino, de mãe aconselhando filho, outras, tom masculino, de pai fazendo piada pra fazer a filha rir.
O escuto no lamento diante do acidente; no silêncio desesperado do marido que perde a esposa prematuramente; no grito agudo da mulher  que é abusada; no choro de fome de crianças no sertão; no sussurro envergonhado de quem é excluído (já fui excluída muitas vezes e o sentimento é de um buraco dentro do peito); nas palavras desamparadas de quem não tem  onde dormir ou o que vestir; muitas vezes Sua voz é rouca por causa de Sua garganta sedenta.
 Ouço Deus nas palavras das hospitaleiras que recebem pessoas em casa, servem comida a vontade e cedem a cama; ouço Deus pela voz do professor que luta para educar; nos lábios de quem reage contra a injustiça; nas palavras apressadas do médico para que a vida não se vá; Sua voz é nítida e forte saída da boca do bombeiro que orienta buscas no morro soterrado, ou de um grupo de policiais, que se organiza para combater o mal.
Ouço Sua angústia diante das absurdas injustiças sociais, de toda opressão econômica e política; ouço seu protesto na voz de quem se sente palhaço votando; Sua voz é fraca nos lábios de quem foi humilhado, mas forte quando emitida por quem quer dignidade. Já ouvi Sua voz serena conceder paz e perdão ao errante; já escutei Suas palavras misericordiosas ditas ao culpado; ouço-o nas palavras de quem não perde a esperança diante do caos; na confiança de quem acredita no amor; no trincar de dentes do menino soldado que não desistiu da vida.
 Sua voz é afinada no canto da faxineira que levanta de madrugada para sustentar os filhos; é empoeirada no pedreiro que não almoça para poder jantar; é molhada na boca da lavadeira que alimenta o pai doente; é amarga na boca de quem tem amor ausente.
Voz de justiça nos lábios do juiz integro, do advogado responsável; voz de igualdade social emitida pelo economista banqueiro dos pobres; voz profética na boca do padre que denuncia a indiferença; na boca do pastor que aponta a corrupção; ouço o na beleza das palavras  do poeta; na musica do compositor apaixonado; nas mãos de instrumentistas habilidosos; nas páginas dos escritores vislumbrados com o mundo; na arte de quem reverencia a vida humana.
Sua voz nunca tem tom de poder, de soberania, de imposição. Ao contrário, o ouço na dor do nazareno crucificado. Deus se revela pela palavra, jogada na vida, por isso é possível ouvi-lo.
A questão, então, não é se Deus Fala, mas quem está disposto a ouvi-lo, porque que Ele Fala, Fala! O dia todo, todo dia.



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